segunda-feira, agosto 24

RETORNO DOS BARES E RESTAURANTES DE SALVADOR NÃO TERÁ 35% DO SEU TOTAL.

 Já são 134 dias da pandemia do novo coronavírus que impedem o funcionamento de bares e restaurante na capital baiana para prevenir a população do contágio da doença. Com o faturamento reduzido a zero, 35% dos 6 mil bares e restaurantes de Salvador não vão reabrir, mesmo que a Prefeitura os possibilite na segunda fase da retomada econômica. O dado é da Federação Nacional de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (FNHRBS), que também foi constatado pela Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes). Já a Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Fehba) prevê um cenário ainda mais pessimista: a estimativa é que 40 a 50% desses estabelecimentos nunca mais abram as portas.

Os motivos para não retomarem as atividades são muitos, que vão desde quererem esperar para sentir a resposta do mercado - já que muitos clientes poderão ter receio de sair de casa no início - às altas dívidas, à falta de crédito, à inviabilidade financeira de implantar os protocolos sanitários exigidos, até a falência de fato, como foi o caso do restaurante DAS, que fica na Bahia Marina, que parou de operar no dia 8 de julho. “O quadro é muito caótico, porque, para reabrir, a gente precisa ter crédito e os custos operacionais são muito elevados com os protocolos sanitários”, explica o presidente executivo da Abrasel, Luiz Henrique do Amaral. “Além disso, a oferta e a demanda reduzida vai fazer com que a gente tenha um horizonte muito difícil”, prevê o presidente. 

Restaurante Das, na Bahia Marina, que decretou falência em 8 de julho por conta da pandemia. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

O pior de todos motivos, segundo Silvio Pessoa, presidente da Fehba, é a falta de capital de giro nesses empreendimentos, que é o dinheiro necessário para as despesas do dia a dia. “Para você voltar a trabalhar, você precisa de capital de giro, de estoque, e nós não conseguimos financiamentos com os bancos credenciados”, esclarece Pessoa. Por conta disso, a estimativa da Fehba é que quase metade dessas empresas não voltem ao mercado após a retomada. “São quase 5 meses sem faturamento, somente despesa com aluguel, energia, água, impostos e ainda os colaboradores que não estão na MP 936”, completa o presidente. 

A Abrasel levantou ainda, com a FNHRBS, que um terço dos restaurantes da Bahia vão falir, se não houver uma mudança do cenário. Dos 51208 mil bares, restaurantes ou similares no estado, cerca de 17243 mil não conseguirão reabrir. A última pesquisa também estipulou uma redução de 77,5% no faturamento, acompanhada da demissão de mais de 86 mil funcionários baianos. Só em Salvador, foram cerca de 25 mil pessoas demitidas. 

Já alguns restaurantes, que estão com dívidas mas ainda não decretaram falência, pretendem esperar mais um pouco para reabrir, afim de ter mais segurança com o retorno financeiro. É o caso da Cantina da Lua do Rio Vermelho, do restaurante Carvão, no Chame-Chame, assim como do M’ar Gastronomia, na Bahia Marina, e do Le Mignon, na Graça. “A gente não enxerga, a princípio, que a clientela volte de vez e não é possível sustentar o negócio com uma clientela parcial”, justifica Cleodo Mércio Alves, proprietário da Cantina da Lua do Rio Vermelho, na praça Brigadeiro Faria Rocha. 

Por isso, Mércio prefere aguardar até dezembro, na esperança de que o público seja maior e que valha a pena se aumentarem os custos operacionais, que ele conseguiu reduzir de 35 para 15 mil reais por mês. Dos 12 funcionários que trabalhavam na Cantina, 4 foram demitidos e 8 estão com os contratos suspensos. O empresário, que também é advogado, relata que não conseguiu acesso a nenhuma linha de crédito e que não implementaram delivery porque é “arriscado”, já que a empresa nunca trabalhou com o serviço de entrega. Já a Cantina da Lua no Pelourinho, que pertence ao pai de Mércio, o  lendário Clarindo Silva, pretende reabrir quando for possível. “A realidade lá é outra e o público é mais tradicional e fiel”, explica. 

O restaurante M’ar gastronomia compartilha a ideia de permanecer fechado, pelos menos um mês após a liberação municipal. “Eu fechado economizo mais. Abrir só por abrir não beneficia a gente, pode até atrapalhar”, conta Pedro Mesquita, chef e sócio do restaurante, inaugurado em 16 de agosto de 2019. Ele disse que espera para “sentir o mercado” para ver como será a frequência e que pretende reabrir com 40% da capacidade. O custo para mantê-lo, que era de 150 mil reais, conseguiu ser diminuído para 40 mil reais, mas, para isso, todos os 25 funcionários precisaram ser demitidos. Mesquita ainda teme que uma segunda onda da Covid-19 acometa Salvador e por isso decide esperar mais tempo. “Abrir para depois ter que fechar de novo seria um prejuízo dobrado”, completa.

Restaurante Carvão, no Chame-Chame, que não pretende reabrir logo quando o setor retomar as atividades. Crédito: Nara Gentil/CORREIO.

O chef Ricardo Silva, do Carvão restaurante, no Chame-Chame, também espera para não correr o risco de fechar novamente se houver nova fase de contaminação. “A gente precisa primeiro entender o contexto, para ver como o público vai reagir com essa reabertura e ainda tem o medo geral de uma segunda onda”, explica o empresário, que só manteve um dos 28 trabalhadores do restaurante. Ricardo diz ainda que não implantou o sistema de entrega porque daria um prejuízo de 30 a 40 mil reais. “Delivery não salva vida de restaurante. O custo com embalagem é alto e ainda tem as comissões dos aplicativos”, afirma. 

Já o Le Mignon, na Graça, quer manter o serviço de entrega assim como o de retirada, que vem fazendo desde o início da crise do coronavírus. “Reabrir com restrição do movimento não deve cobrir os fixos que são altos, porque o Mignon é mais de um négocio, é restaurante e buffet”, informou a assessoria da empresa. O responsável pelo restaurante Origem, o chef Fabrício Lemos, planeja reabrir uma semana após a permissão do prefeito. 


*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro

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